segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

IMPUNIDADE



Ele esbarrou no seu próprio espectro, tal foram as voltas que deu ao mundo e o mundo sempre diferente.


As situações clonaram os factos.


Ele cruzou-se, mais que uma vez, com os cadáveres dos seus inimigos, mortos por si, e, mais que uma vez, eles, moribundos, lhe imploraram que lhes perpetuasse as suas vidas.


Sem saber, construiu um glossário magistral de mortes impunes.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

NOITES BRANCAS



As noites brancas, essas, ocupam-se, desbravando, sem voltar costas ao perigo. O frio intromete-se sempre, lembrando que a morte é sempre uma possibilidade, por sinal, uma evidência. O sentimento de culpa pesa, por se cobrar ao corpo e á mente, as preciosas horas de sono. Vale sempre o esforço, pois as revelações luminosas que se insinuam, são espantosas:



Ciprestes Ruínas Nuvens Cárcere Natureza Agreste Caverna



O homem que cheira mal dos olhos deve horas infinitas de noites reveladoras ao sono.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

DESALIMENTAR A DOR



O homem que cheira mal dos olhos, desde que caminha errante por esse mundo sem Deus,


constatou que tudo o que construiu até então, acabou por destruir o que ainda há-de vir.


O homem que cheira mal dos olhos construiu em vão...desalimentou a dor do resto do mundo.


Falácia, esta, a que lhe venderam !

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ACORDAR EM QUEDA!



O homem que cheira mal dos olhos acordou na obscuridade total


e não enxergou qualquer ponto de referência onde se socorrer.


Só negro sobreposto em penunbra,


nenhuma fonte de luz.



O homem que cheira mal dos olhos afinal está em queda,


carregando um manto pesado e bolorento de toneladas de particulas negras,


pousando na sua pele, ritmando o seu medo,


pesando no seu cadáver


em queda,


permanentemente, em queda,


em queda rápida e espiral


num adivinhar de choque avassalador.


Adivinha uma queda sem fim,


num corpo que perdeu o esqueleto


confinado ao seu peso molecular,


infinitamente molecular.



O homem que cheira mal dos olhos abandonou-se,


já não teme pela morte,


o instinto de sobrevivência baixou a níveis negativos.



O homem que cheira mal dos olhos, antes da queda,


embrulhou-se numa voluptuosa cortina de veludo carmim


e implodiu.


Afinal, a queda era para cima.

domingo, 19 de outubro de 2008

O ÚTERO!



Olhando daqui de cima, tudo o resto que a minha visão periférica não abrange é única e simplesmente uma massa disforme de merda que, nem as moscas têm coragem de pousar as suas infectadas patas.


Soberano e relevante o que posso vislumbrar do alto da minha ravina particular:


multidões de corpos fornicando o que resta de dignidade em corrida desenfreada ao esgotamento dos fluidos vitais; cambada de seres incompletos que só reagem a impulsos primários, chupando sôfregos caralhos em sangue; a juventude dessa horda indefinida nunca chegará a ensaiar as pequenas revoluções que lhe estava reservada, o salto geracional irá ser brusco e a história não se cumprirá.


Dante, no futuro, irá cair desta escarpa sinuosa e se chafurdar naquela orgia pestilenta.


O homem que cheira mal dos olhos, desta vez, não se humilhará, neste festim insano.


o homem que cheira mal dos olhos observa, desvia-se e segue o seu caminho, rumo ao perigo real e verdadeiramente obsceno que espera todos os homems que vivem fora do seu tempo:


o útero.

domingo, 21 de setembro de 2008

PERIGO



Falta-me este tempo inútil de gastar o que resta da juventude que arde urgente.


Resta-me o torpor opressivo de uma máquina que apaga todos os ruidos.


Proponho-me caminhar sempre enfrentando o perigo obsceno.


O homem que cheira mal dos olhos avança recuando.


quarta-feira, 10 de setembro de 2008

PEDRAS PAGÃS



Há um odor pagão em cada pedra baixada, que queima as narinas de quem tem a ousadia de as decifrar. Sempre as respeitei, as pedras. São infinitamente anciãs. Demasiado nobres para serem objecto de inventariazação.


O homem que cheira mal dos olhos ainda tem mais liberdade que as pedras das aldeias medievais sem gente.


terça-feira, 15 de julho de 2008

VENHAM COMER A MINHA MANDRÁGORA !!!



Desconfiem da idílica paisagem emprestada pelo Deus criado pelo homem!!
Nada do que soma no absurdo caminho para a morte é gratuito.
Até o lixo consumista que agride as margens do rio da minha alma, é dejecto do meu ego.
A minha vida por uma cascata imaculada.
As minhas entranhas estão prontas para o gozo dos meus inimigos...
venham comer a minha mandrágora.

domingo, 6 de julho de 2008


Nada me deixa mais fraco que cheirar o mal em alguém que eu ame !

quarta-feira, 30 de abril de 2008

DELÍRIO !




De novo o delírio !



Missangas em estroboscópio



Portas que tombam para fora e fogem



Cheiro a azedo vindo de dentro do meu cérebro



A vontade viciada galopa em manada de cavalos selvagens



A minha mente é um danado de um cavalo selvagem



Ordens registadas em loop repetem castigos



A impossibilidade de andar descalço



Esta ideia está a matar-me!



quinta-feira, 24 de abril de 2008

ESTE CORPO E ESTE ESPÍRITO NÃO SÃO COMPATÍVEIS !


Ás vezes páro, breve instante, e admiro-me com esta energia que não me deixa parar. Tantas razões para desistir e pôr fim a esta marcha irracional, sem destino. Pergunto, com ruido, ao mais fundo da minha alma, se este corpo tem que se gastar até ao fim, e o espírito que nela habita, grita irado: - Só maltratando incessantemente a carne e o esqueleto até á sua extinção, eu me posso libertar e, novamente, a esperança renasce noutro habitáculo corpo! Compreendo, então, esta caminhada suicida, a destruição e a miséria que vou deixando em cada passo terminado, a energia que sugo e vomito em cada relação consumada, tudo em nome de um ego obeso insaciável. Posso atravessar todos os desertos do mundo, Sofrer as maiores necessidades que um homem pode suportar, até á loucura, Posso chegar ao limite do fim do mundo... Este espírito e este corpo, definitivamente, são incompatíveis !

domingo, 6 de abril de 2008

TARDE DEMAIS !



Eis que saio da realidade e me posiciono no hall transitório impasse A:


Idosos e crianças entediam-se com os programas da manhã na televisão


Desempregados e reformados experimentam o refluxo queimando as suas gargantas


Doentes, ex-doentes, viciados em cobardia e mentirosos compulsivos, esperam o golo dourado


A educação da liberdade não se aprende num pacote de formação de 60 horas apenas


Fomos todos enganados.


Ninguém leu o texto em letras minúsculas na parte inferior do contrato


Agora é tarde demais !


terça-feira, 4 de março de 2008

O SEGREDO QUE PEIDO SEGREGO



O segredo que peido segrego .


O implante anexado salva o dia.


A mentira forjada adia o inevitável.


A vertigem do desconhecido corroi o puro.


A utopia do homem bom arde de fora para dentro.
O palco vazio torna impossível o drama que imita a vida.
O homem que cheira mal dos olhos conhece a sua mediocridade

domingo, 10 de fevereiro de 2008

O HOMEM QUE CHEIRA MAL DOS OLHOS NÃO RENEGA AS SUAS ORIGENS!!


A canalha queima o que tem capacidade de criar. A canalha esvazia até ao tutano a essência.


Vazio Sépia Deserto Vermelho Mancha Branca Buraco Negro



O homem que cheira mal dos olhos nasceu no coração do povo que brota da terra.


Cal da Fossa Sal do Choro Mal do Homem


O homem que cheira mal dos olhos abnega todos aqueles que renegam as suas origens.