Olhando daqui de cima, tudo o resto que a minha visão periférica não abrange é única e simplesmente uma massa disforme de merda que, nem as moscas têm coragem de pousar as suas infectadas patas.
Soberano e relevante o que posso vislumbrar do alto da minha ravina particular:
multidões de corpos fornicando o que resta de dignidade em corrida desenfreada ao esgotamento dos fluidos vitais; cambada de seres incompletos que só reagem a impulsos primários, chupando sôfregos caralhos em sangue; a juventude dessa horda indefinida nunca chegará a ensaiar as pequenas revoluções que lhe estava reservada, o salto geracional irá ser brusco e a história não se cumprirá.
Dante, no futuro, irá cair desta escarpa sinuosa e se chafurdar naquela orgia pestilenta.
O homem que cheira mal dos olhos, desta vez, não se humilhará, neste festim insano.
o homem que cheira mal dos olhos observa, desvia-se e segue o seu caminho, rumo ao perigo real e verdadeiramente obsceno que espera todos os homems que vivem fora do seu tempo:
o útero.
1 comentário:
viverão eles fora do seu tempo,ou estaremos nós num tempo paralelo, lado a lado e intransponível? não fornicamos nós também submissos e apaixonantes de Dante? será por ser o nosso palco mais belo que o deles?
compreendo a tua tristeza e conheço-a pois também daqui de cima a vejo,mas congratulemo-nos amigo nos ter sido concedida, vá-se lá saber por quem, a oportunidade de estar aqui em cima.
(texto sublime, como sempre!)
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