domingo, 19 de outubro de 2008

O ÚTERO!



Olhando daqui de cima, tudo o resto que a minha visão periférica não abrange é única e simplesmente uma massa disforme de merda que, nem as moscas têm coragem de pousar as suas infectadas patas.


Soberano e relevante o que posso vislumbrar do alto da minha ravina particular:


multidões de corpos fornicando o que resta de dignidade em corrida desenfreada ao esgotamento dos fluidos vitais; cambada de seres incompletos que só reagem a impulsos primários, chupando sôfregos caralhos em sangue; a juventude dessa horda indefinida nunca chegará a ensaiar as pequenas revoluções que lhe estava reservada, o salto geracional irá ser brusco e a história não se cumprirá.


Dante, no futuro, irá cair desta escarpa sinuosa e se chafurdar naquela orgia pestilenta.


O homem que cheira mal dos olhos, desta vez, não se humilhará, neste festim insano.


o homem que cheira mal dos olhos observa, desvia-se e segue o seu caminho, rumo ao perigo real e verdadeiramente obsceno que espera todos os homems que vivem fora do seu tempo:


o útero.

1 comentário:

Anónimo disse...

viverão eles fora do seu tempo,ou estaremos nós num tempo paralelo, lado a lado e intransponível? não fornicamos nós também submissos e apaixonantes de Dante? será por ser o nosso palco mais belo que o deles?
compreendo a tua tristeza e conheço-a pois também daqui de cima a vejo,mas congratulemo-nos amigo nos ter sido concedida, vá-se lá saber por quem, a oportunidade de estar aqui em cima.
(texto sublime, como sempre!)