sexta-feira, 16 de julho de 2010

ENTARDECER LENTO E VICIANTE!


Não pôde deixar de ouvir os sons, assim como um entardecer lento e viciante. Os seus amigos gastaram a sua juventude, fugindo da realidade á custa dos psicotrópicos, correndo que nem loucos atrás do cão branco da depressão e agora ele, o animal cobrador, come-os sem têmperos, eles ouviram os mesmos sons...não pôde deixar de os ouvir, ainda que nunca se entregasse á besta. Retirar sempre o essêncial do ruído branco do ladrilho da casa de banho, enquanto não vem as feses em catadupa, sangue. Os mesmos sons, pálidos polaroids, anos passaram e o sonho cristalizou naquela cena de rua abaixo a arrancar os espelhos dos carros...tanta energia e tão pouco avanço os dias do tédio.


Ainda ouve, nostálgico, Felt, como os sons mais antigos dos primeiros homens, primitive painters, primeiro grito do primeiro ser humano.


O homem que cheira mal dos olhos carrega o passado, largando a carga aos poucos pelo trilho tortuoso.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O HOMEM QUE CHEIRA MAL DOS OLHOS HÁ DIAS QUE ANDA SEM PARAR - PARTE 1


Quanto mais anda, há dias que anda, anda sem interrupção, num desvario sem destino, anda que anda...maldição tornada febre sem parar.Um dia há-de parar, um dia hão-de fazê-lo parar.Ele vai parar, por interferência externa...nada dura para sempre, agora que conhece os seus limites, um choque, essa constatação, ele vai continuar a andar, contra tudo e contra todos, se depender dele.

Aquela massa pesada que age contra si, invisível, desgasta-lhe a sua vontade de andar, cada passo mais pesam-lhe as pernas tornadas de chumbo de sangue, o mar, recordação, injecta-lhe os passos, passada larga agora, mais que nunca não pára, o mar, os mergulhos dourados, aroma de leite, joelhos guinando, osso contra osso e essa vontade indómita de não fugir, nunca, fuga para a frente, o que está para além da grande duna..., tanta impulsão, ganas de adrenalina e esqueceu-se de engolir algo que acalmasse o vazio, o imenso vazio que o faz andar sem parar, olhar para o chão que se afasta e logo a grande montanha aparece mais volumosa, o caminho fica para trás, tomara, anda que nem um louco.

Ele desapegou-se do que o impedia de andar, andar para a frente, nunca para trás, pesava essa carga, nómada ele nunca deixou de ser, agora que anda que nem um dependente de uma droga poderosa, nenhuma droga o tomou nesta louca caminhada, as pedras rolam á sua passagem, até os bichos fogem, velocidade constante e vontade ascendente.

O homem que cheira mal dos olhos há dias que anda sem parar!