
O homem que cheira mal dos olhos acordou na obscuridade total
e não enxergou qualquer ponto de referência onde se socorrer.
Só negro sobreposto em penunbra,
nenhuma fonte de luz.
O homem que cheira mal dos olhos afinal está em queda,
carregando um manto pesado e bolorento de toneladas de particulas negras,
pousando na sua pele, ritmando o seu medo,
pesando no seu cadáver
em queda,
permanentemente, em queda,
em queda rápida e espiral
num adivinhar de choque avassalador.
Adivinha uma queda sem fim,
num corpo que perdeu o esqueleto
confinado ao seu peso molecular,
infinitamente molecular.
O homem que cheira mal dos olhos abandonou-se,
já não teme pela morte,
o instinto de sobrevivência baixou a níveis negativos.
O homem que cheira mal dos olhos, antes da queda,
embrulhou-se numa voluptuosa cortina de veludo carmim
e implodiu.
Afinal, a queda era para cima.